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domingo, 18 de outubro de 2015

Desmascarando a Renovação Carismática Católica

Na postagem de hoje vamos falar um pouco sobre a RCC, conhecida como Renovação Carismática Católica, que é um movimento de ação dentro do catolicismo para reavivamento espiritual e recuperação de fiéis frente à crescente onda de conversão ao protestantismo neopentecostal, principalmente nos países subdesenvolvidos. Para muitas pessoas que não conhecem as suas bases, a Renovação Carismática seria uma espécie de seita dentro do catolicismo, o que não é verdade, tratando-se somente de uma nova maneira de agir perante os dogmas da Igreja e das práticas dos fiéis e arrebanhamento. Alguns historiadores denominam a RCC de “Contrarreforma do século 20”, comparando-a ao movimento que a Igreja fizera no século 16 para frear o crescimento do luteranismo e do calvinismo em todo mundo, expandindo a fé católica nas colônias americanas, africanas e asiáticas.


1. O movimento surgiu nos Estados Unidos, em meados da década de 1960, pela influência dos movimentos pentecostais protestantes, mas mantendo os dogmas do catolicismo;

2. A prática da RCC baseia-se na experiência pessoal com Deus a partir dos dons do Espírito Santo, procurando oferecer uma abordagem inovadora às formas mais tradicionais do catolicismo, renovando os cultos nas Igrejas;

3. De acordo com os estudos dos teólogos, atualmente existem cerca de 150 milhões de católicos carismáticos em todo o mundo, estando presentes em todos os continentes, fazendo uma abordagem católica muito semelhante às igrejas pentecostais e neopentecostais, às vezes tornando o culto e a mística espiritual mais que um show;

4. A Renovação Carismática Católica, inicialmente, era conhecida como Movimento Católico Pentecostal. Teve sua gênese maior em 1967, quando Steve Clark (foto abaixo), durante sua participação no Congresso Nacional de Cursilhos de Cristandade, mencionou o livro “A cruz e o punhal”, do pastor pentecostal John Sherril, que falava a respeito do trabalho do pastor David Wilkerson com grupos de viciados em Nova York;

5. Antes desse episódio, em 1965, estudantes católicos da Universidade de Duquesne, na Pensilvânia, começaram a reunir-se para a prática de oração e conversas a respeito da fé, e neste grupo estava Steve Clark. Eram católicos que se dedicavam a atividades apostólicas, mas ainda insatisfeitos com sua experiência religiosa. Em razão disso, começaram a rezar para que o Espírito Santo se manifestasse neles. Na vontade de vivenciar uma experiência mais profunda com o Espírito, foram ao encontro de William Lewis, sacerdote da Igreja Episcopal Anglicana, que os encaminhou a Betty de Shomaker, uma senhora que realizava em sua casa reuniões de oração pentecostal;


6. Em 13 de janeiro de 1967, Ralph Keiner e sua esposa Pat, Patrick Bourgeois e Willian Storey foram à casa de Flo Dodge, paroquiana episcopal de William Lewis, para assistirem à reunião. Em 20 de janeiro, assistem a mais uma reunião e suplicam que se ore para que eles recebam o que se chama “batismo no Espírito Santo”. Ralph recebeu assim o chamado “dom de línguas” (fenômeno conhecido no meio acadêmico como xenoglossolalia). Na semana seguinte, em fevereiro de 1967, Ralph impõe as mãos para que os quatro recebam esse mesmo batismo;

7. Em janeiro de 1967, Bert Ghezzi comunica a universitários de Notre Dame, South Bend, Indiana o que teria ocorrido em Pittsburgh. Em fevereiro, antes do retiro de Duquesne, Ralph Keifer vai a Notre Dame e conta suas experiências. Em 04 de março, um grupo de estudantes se reúne na casa de Kevin e Doroth Ranaghan. Um professor de Pittsburgh partilha a experiência de Duquesne e, em 05 de março de 1967, o grupo pede a imposição de mãos para receber o Espírito Santo;

8. Após a Semana Santa, foi realizado um retiro em Notre Dame para discernir o que seria a vontade de Deus nessas manifestações. Participaram professores, alunos e sacerdotes. Cerca de 40 pessoas de Notre Dame e 40 da Universidade de Michigan, entre os quais Steve Clark e Ralph Martin, que, em 1976, iriam à Universidade de Michigan, em Ann Arbor;

9. Uma expressiva pioneira da RCC é Patti Mansfield, autora do livro intitulado “Como um novo pentecostes”, onde narra a experiência do retiro conhecido como “final de semana de Dusquene”, de 1967. Patti Mansfield desde então é pregadora e viaja por todo o mundo, tendo visitado o Brasil por inúmeras vezes;

10. No Brasil, a Renovação Carismática teve sua gênese na cidade de Campinas (SP), na década de 1970, através dos padres norte-americanos Harold Joseph Rahm e Eduardo Dougherty (foto abaixo), expandindo-se rapidamente para o restante do país por ser uma “maneira diferente” de ser católico, justamente como os americanos na década de 1960 com os movimentos pentecostais protestantes;


11. Em 1970 e 71 iniciou-se a Renovação em Telêmaco Borba, no Paraná, com Pe. Daniel Kiakarski, que a conhecera nos Estados Unidos também em 1969. Em 1972 e 1973 Pe. Eduardo, de novo no Brasil, promoveu vários retiros e iniciou grupos de oração;

12. Em janeiro de 1973, o Pe. George Kosicki, que há muito tempo participava ativamente da Renovação nos Estados Unidos, veio a Goiânia para um retiro carismático de uma semana. A ele compareceram D. Matias Schmidt, atual bispo de Rui Barbosa, na Bahia, e vários padres e religiosas, que iriam iniciar grupos de oração em Anápolis, Brasília, Santarém e Jataí. Em 1973, perto de Miranda, no Mato Grosso do Sul, um pequeno grupo começou a ler o livro “Sereis batizados no Espírito” e a rezar pedindo o dom do Espírito. Um mês mais tarde veio a eles o Pe. Clemente Krug, redentorista, que conhecera a Renovação em Convent Station, nos Estados Unidos; orando com eles, receberam o denominado batismo no Espírito e o suposto dom de línguas;

13. Em geral, pode-se dizer que os grupos de oração surgidos em inúmeras cidades do Brasil tiveram sua origem seja nas “Experiências de Oração no Espírito Santo” do Pe. Haroldo Rahm, seja nos retiros promovidos pelos padres Eduardo Dougherty e George Kosicki;

14. Em vista da extensão que tomava a RCC no Brasil, Pe. Eduardo Dougherty, sentindo a necessidade de uma melhor organização, preparou com o Pe. Haroldo Rahm e Irmã Juliette Schuckenbrock um encontro de final de semana em Campinas, que foi o I Congresso Nacional da Renovação Carismática no Brasil, em meados de 1973, ao qual compareceram cerca de 50 líderes. Em janeiro de 1974 foi realizado o II Congresso Nacional da Renovação Carismática, comparecendo líderes de Mato Grosso, Belo Horizonte, Salvador, Rio de Janeiro, Santos, São Paulo, entre outros;

15. No início, a RCC atingiu líderes já engajados de movimentos como Cursilho, Encontros de Juventude, TLC e outros, e foi se alastrando gradativamente como uma nova “onda” de prática religiosa com identidade própria;


16. Em 1972, Pe. Haroldo escreve o livro “Sereis batizados no Espírito”, no qual explica o que vem a ser o “pentecostalismo católico”. Sendo uma das primeiras obras publicadas no país sobre o movimento, trazia orientações para a realização dos retiros de “Experiência de Oração no Espírito Santo”, que muito contribuíram para o surgimento de vários grupos de oração;

17. Em 1978, o movimento da Renovação Carismática Católica ganhou mais um grupo que hoje é um dos mais importantes e poderosos no meio, a Comunidade Canção Nova, fundada no interior de São Paulo, e que hoje detém meios de comunicação, editoras de livros, estúdios de música etc.;

18. Em 1994, Reginaldo Prandi realiza um levantamento da RCC no Brasil, seguindo pesquisas que já aconteciam nos Estados Unidos e em outros países. O resultado apresentado foi de 4 milhões de católicos carismáticos, sendo 70% mulheres, e desse total a forma mais expressiva é de donas de casa, com 24% de representação;

19. Essa pesquisa mostrou números interessantes. Tratava-se de um número elevado – praticamente equivalente ao total de evangélicos que seguem as denominações protestantes históricas; menos de um terço dos evangélicos pentecostais; o dobro dos católicos das comunidades eclesiais de base (CEB’s); número similar ao de espíritas kardecistas; e quase três vezes o total dos adeptos das religiões afro-brasileiras;

20. Atualmente, a RCC no Brasil está presente em todos os Estados, contando com 285 coordenações regionais cadastradas em um escritório nacional de organização do movimento, contando, atualmente, com mais de 14 milhões de adeptos em mais de 20 mil grupos de oração, principalmente localizados em São Paulo e em Minas Gerais;


21. Em termos de doutrina, a RCC afirma seguir a Bíblia, o Catecismo da Igreja Católica e todas as demais diretrizes da Igreja, entre ela os dogmas já fixados no catolicismo romano como, por exemplo, a crença na intercessão dos santos e a veneração a Maria, a mãe de Jesus;

22. Os membros da RCC acreditam na ocorrência do que chamam de batismo no Espírito Santo, um fenômeno sobrenatural de manifestação do Espírito Santo na vida daquele que crê. Normalmente é considerado um momento de conversão, de recomeço de vida de quem o experimenta. O batismo no Espírito Santo não é o batismo sacramental da Igreja, sendo este único e indelével, esta experiência, também conhecida como efusão do Espírito Santo é a manifestação ou profusão do Espírito Santo já recebido no batismo sacramental;

23. A Renovação Carismática Católica recebe em todo mundo uma série de acusações e críticas, sendo a principal delas aquela que fala que o movimento seja uma cópia deformada dos movimentos neopentecostais norte-americanos, o que vimos no início desta postagem, o que não deixa de ser verdade, pois os primeiros carismáticos foram iniciados no movimento, nos Estados Unidos, por membros pentecostais;

24. No Brasil, a RCC sofre a crítica de ser um braço forte da burguesia e dos valores do status-quo, ensinando aos membros uma série de valores considerados antigos. A Canção Nova é um exemplo disso, que prega o nojo ao aborto (mesmo de casos clínicos e de estupros), às experiências com células-tronco etc. Outro ponto é que, no Brasil, a RCC seria reconhecida como “o catolicismo de Direita”, fazendo ativismo em campanhas políticas, como em 2010 contra a então candidata Dilma Rousseff, inclusive distribuindo “santinhos” e grupos de oração realizando comícios eleitorais;

25. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em seu documento de número 53, oferece recomendações disciplinando certas práticas místicas no contexto da RCC. Por exemplo, que se evite a prática do repouso no Espírito (na qual as pessoas parecem desmaiar durante os momentos de oração, mas permanecem conscientes do que ocorre em sua volta);


26. Outras preocupações da CNBB em relação ao movimento carismático católico são: preocupações exageradas com o demônio, orar e falar em línguas, evitar o que chamam de lavagem cerebral durante grupos d oração e retiros espirituais, não levar à superstição e à idolatria a pessoas líderes de comunidades;

27. Curiosamente, em seu início o pastor neopentecostal David Wilkerson foi um dos maiores palestrantes em congressos carismáticos católicos nos Estados Unidos. Enquanto isso, o padre Thomas Forrest, um dos líderes carismáticos americanos, foi batizado no Espírito Santo em um retiro evangélico nos anos 60;

28. Parte considerável das músicas cantadas nos grupos de oração e encontros carismáticos católicos têm compositores protestantes neopentecostais, bem como grande parte do conteúdo do livro “Louvemos ao Senhor”. Alguns exemplos são: “Buscai primeiro o reino de Deus”, “Glorificarei Teu nome, oh Deus”, “Pelo Senhor marchamos sim”, “A alegria está no coração”, “Posso pisar uma tropa”, “Espírito vem controlar todo o meu ser”, “Espírito, enche a minha vida, enche-me com teu poder”, “Deus enviou seu filho amado”, “Se as águas do mar da vida” e “Eu sou feliz porque meu Cristo quer”;

29. Algumas vertentes evangélicas pentecostais alegam que a RCC emula alguns de seus ritos e músicas, apesar de a RCC também ter músicas próprias. Para muitos carismáticos e pentecostais isso é positivo, pois é oportunidade de uma prática do ecumenismo pela partilha da música cristã;

30. Apesar de ter nascido nos Estados Unidos na década de 1960, para muitos historiadores e teólogos, o Movimento Carismático, ou Carismatismo, teve início nos chamados Movimentos de Avivamento Religioso do século 19, estes fortemente influenciados pelos Movimentos Pietistas Radicais, do século 18, que tiveram enorme força na Alemanha luterana;


31. O movimento carismaticista alemão do século 19 deu origem a um dos elementos mais controversos da teologia pentecostal, a chamada “Teologia da Prosperidade”, que fala das recompensas terrenas para ações que visam o mundo espiritual;

32. É interessante pontuar que a popularização do termo “carismático”, tanto para católicos da RCC, como para protestantes neopentecostais, foi realizada pelo ministro luterano alemão Harald Bredesen. De acordo com teólogos e historiadores, tanto o movimento protestante como o movimento católico, por serem parecidos e beberem das mesmas doutrinas, podem ser chamados de “carismáticos”;

33. O termo “carismático” tem origem no grego “xárisma”, o mesmo que “dom”, “graça” ou “bênção”. Ou seja, tanto na linha católica como na vertente protestante há a busca dos chamados “dons do espírito”, que aparecem no livro de Atos dos Apóstolos, na Bíblia;

34. O Movimento Carismático está relacionado com o pentecostalismo, na medida em que partilha o compromisso com o uso dos dons espirituais. No entanto, dentro do Movimento Carismático este compromisso é embutido dentro de toda a variedade de denominações históricas, e assim em cada contexto, a teologia, a cultura e a aceitação pode variar enormemente;

35. A partir da década de 1950 muitos cristãos carismáticos passaram a formar igrejas e denominações distintas, para a qual o termo apropriado é neocarismático ou neopentecostal. São igrejas que exploram muito mais a vivência com o Espírito Santo e enfatizam com tenacidade a Teologia da Prosperidade, e, por isso, sofrem críticas de estarem retirando dinheiro de fiéis pobres para enriquecimento de líderes espirituais;


36. Em 2006, o Movimento Carismático tinha 192 milhões de adeptos, os neocarismaticos eram 318 milhões em todo mundo e os pentecostais clássicos 78 milhões. Isto significa que carismáticos são o segundo maior ramo do Cristianismo após a Igreja católica (embora os católicos carismáticos não se vejam como uma parte separada da entidade eclesial católica);

37. Pentecostais, o Movimento Carismático e os Neocarismáticos dividem uma grande história. Entre elas estão uma crença comum na forma como Deus trabalha em avivamento, e o poder e a presença de Deus demonstrada na vida diária do cristão;

38. Muitas igrejas influenciadas pelo Movimento Carismático deliberadamente se distanciaram do pentecostalismo, no entanto, por razões culturais e teológicas. O primeiro lugar entre as razões teológicas é a tendência de muitos pentecostais de insistir em que o falar em línguas é a evidência física inicial após o batismo no Espírito Santo. Os pentecostais também se distinguem do Movimento Carismático com base no estilo. Além disso, muitos no movimento carismático empregam estilos contemporâneos de culto e de métodos de evangelismo que diferem das práticas pentecostais tradicionais;

39. Nas últimas décadas, a Igreja Luterana nos Estados Unidos tem se dedicado ao movimento carismático deles a fim de arrebanhar fiéis, uma vez que a congregação sempre foi conhecida pelo seu tradicionalismo, o que afastava de lá os jovens;

40. O Movimento Carismático na Igreja Ortodoxa Oriental nunca exerceu a influência que é vista em outras igrejas centrais. Entretanto, no Leste Europeu a sua força tem sido monstruosa para o arrebanhamento de fiéis da juventude, principalmente em países como a Estônia, Letônia, Lituânia, Bulgária e Ucrânia.


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